Considerações sobre o Ensino de Arquitetura no Brasil após o ENSEA
por Alan Dick Megi, CAU/BA.
Como representante do CAU-BA – Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia – estive em São Paulo participando do XXXI ENSEA –Encontro Nacional Sobre Ensino de Arquitetura e Urbanismo, promovido pela ABEA, realizado entre 22 e 24/ de novembro.
No encontro foram debatidos diversos temas de interesse não só dos arquitetos e estudantes, como de toda a sociedade, visto que o principal assunto é a melhoria do ensino de uma das profissões que mais afetam a qualidade de vida da população, seja pela necessidade de bom desempenho na qualidade, funcionalidade e segurança das edificações, como também da qualidade de vida nas cidades, as quais vem passando por transformações cada vez mais rápidas e com demandas de serviços e infraestrutura cada vez maiores.
Muito se comenta que a proliferação, às vezes indiscriminada, de cursos pelo país está diminuindo a qualidade dos profissionais, e que a arquitetura brasileira seria prejudicada por profissionais mal formados, o que afetaria toda a sociedade. Nesse sentido buscam-se soluções das mais diversas e entre elas, vem à tona a ideia de se criar um exame que seria aplicado aos formandos após a conclusão do curso, a exemplo do Exame de Ordem que os bacharéis em Direito tem para poderem atuar como advogados.
Mas por que deveríamos aplicar um exame após a conclusão do curso?
Não seria muito mais lógico e eficaz trabalhar para a melhoria dos cursos durante os estudos, em vez de penalizar aos estudantes pela suposta formação ruim que tiveram e cuja culpa não lhes cabe?
O que faríamos com esses formandos que investiram tantos anos de estudo?
Seriam descartados como descartamos um produto mal fabricado e que não passou pelo controle de qualidade de uma indústria?
Isso seria totalmente contraproducente e não resolveria a questão fundamental, que é proporcionar uma real melhoria da qualidade do ensino no país.
Muito mais adequado e inteligente será fiscalizar e certificar a qualidade dos cursos, podendo também fornecer-lhes “selos de qualidade” renováveis de tempos em tempos, de forma a incentivar a busca da excelência. Pode-se (e deve-se) também examinar melhor os estudantes durante o curso, mas nunca após a sua conclusão.
Entre outras coisas, seria mais producente aumentar a exigência de prática profissional desses estudantes através dos estágios com acompanhamento rigoroso das faculdades. Em outras palavras, será melhor escolher soluções que realmente aumentem a qualidade dos novos profissionais em vez de prejudica-los exigindo-lhes um exame que só servirá para a proliferação e o enriquecimento de outros “cursinhos” destinados apenas a “ensinar a passar no exame”, mas que em nada contribuirão para ensiná-los o bom exercício da profissão. Exame que servirá para arrecadar mais dinheiro com as taxas cobradas para cada prova e para criar uma “indústria de produção de exames” com todas as demais consequências danosas que esse tipo de “controle” proporciona.
Esperamos que essa ideia da criação do controle através de um exame não avance e acredito que, pela observação das discussões na ABEA e no próprio CAU, a solução a ser implementada será a melhor para o futuro da Arquitetura brasileira e, por consequência, para toda a sociedade.
Cons. Alan Dick Megi – Arquiteto Urbanista, Conselheiro do CAU-BA, membro das Comissões de Ensino e de Exercício Profissional do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia.
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r2cpress.com.br: 30 novembro de 2012